CALL FOR PAPERS | THÉSIS EDIÇÃO TEMÁTICA Nº 19
Em 1896, o químico sueco Svante Arrhenius desenvolveu estudo que buscava comprovar que os gases de efeito estufa são estimuladores do aquecimento do planeta, em função da produção de dióxido de carbono pela queima de combustíveis fósseis: “O ar retém calor de duas maneiras diferentes. Por um lado, o calor sofre uma difusão seletiva em sua passagem pelo ar; por outro lado, alguns dos gases atmosféricos absorvem quantidades consideráveis de calor” (ARRHENIUS, 1896).
No primeiro Relatório de Avaliação elaborado pelo reconhecido Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), em 1992, havia ainda uma cautelosa convicção sobre a influência humana nas mudanças climáticas. Porém, desde o Quarto Relatório de Avaliação, em 2007, há um tom mais assertivo sobre a responsabilidade dos seres humanos em relação ao meio-ambiente. No Sexto Relatório de Avaliação, em 2023, foi concluído que:
as atividades humanas, principalmente através das emissões de gases com efeito de estufa, causaram inequivocamente o aquecimento global, com a temperatura da superfície global a atingir 1,1°C acima dos níveis 1850-1900 em 2011-2020. As emissões globais de gases com efeito de estufa continuaram a aumentar, com contribuições históricas e contínuas desiguais resultantes da utilização insustentável de energia, da utilização do solo e das mudanças no uso da terra, estilos de vida e padrões de consumo e produção em todas as regiões, entre países e entre indivíduos (IPCC, 2023, p.4).
Em novembro de 2022, a população mundial atingiu a marca de 8 bilhões de pessoas. Apesar do arrefecimento do viés de crescimento populacional relativo, as estimativas demográficas são de que os números chegarão a 8,5 bilhões em 2030 e 9,7 bilhões em 2050 (UN, 2022, p.3). Deve-se destacar que a maior parte deste contingente, cerca de 83%, vive em países menos abastados. Além disso, sabe-se que há uma reconhecida e longeva tendência de concentração populacional nas cidades. Hoje, estima-se que 57% da população mundial viva em áreas urbanas. A projeção futura é no mínimo alarmante, pois, por volta de 2050, essa proporção deve atingir 68% (UNCTAD, 2023).
Em 2023, segundo a World Meteorological Organization (2024), a temperatura média na superfície terrestre chegou a aproximadamente 1,45oC acima da temperatura média monitorada entre 1850-1900. Assim, aquele ano foi reconhecido como o mais quente dos últimos 174 anos. Não se trata de um fato isolado, mas de uma progressão da temperatura média cada vez mais visível. O recorrente desequilíbrio radiativo positivo no topo da atmosfera leva ao acúmulo de energia no sistema da Terra (na forma de calor), o que acaba ocasionando extremos climáticos. Os efeitos são percebidos não só pela própria retroalimentação da elevação da temperatura global, mas também através da formação de ilhas de calor nas áreas mais urbanizadas. A utilização de materiais retentores de calor; a impermeabilização do solo nas cidades; a desenfreada destruição de ecossistemas naturais etc., por ação antrópica, vêm agravando o problema de forma talvez irreversível. Como consequência, tem sido cada vez mais comum as chuvas torrenciais e ventos devastadores; degelo de parte significativa da criosfera com aumento do nível médio do mar; enchentes e inundações cada vez mais comuns, dentre outras consequências, como os que vêm sendo testemunhado por todo o planeta.
A revista Thésis, - em referência distante à Richard Sennett, - propõe uma NOVA CHAMADA para sua edição de número 19: “Mudanças climáticas no planeta: perspectivas para construir e habitar” e convida pesquisadores a desenvolverem algumas proposições, dentre infinitas outras, sobre o estado da arte do tema: quais são as consequências das mudanças climáticas para as cidades? Que soluções poderão ser buscadas para os extremos climáticos? Arquiteta(o)s e urbanistas estão preparado(a)s para lidar com as mudanças do clima? Quem será mais afetado pelos rigores do clima? Existe democracia climática? Que preocupações devem ser direcionadas para o espaço público e o espaço privado diante da realidade climática que parece se avizinhar? Concepções e processos construtivos serão repensados com as mudanças climáticas? Haverá novas formas de vida no planeta, em função dos extremos climáticos? Quais novas perspectivas emergem das Soluções Baseadas na Natureza? Quais meandros da história ambiental merecem ser contados até aqui? Que respostas ambientais atinentes ao conforto térmico, no âmbito da arquitetura e do urbanismo, foram esquecidas ao longo do tempo? Quais inovações na arquitetura, engenharia, urbanismo etc. podem ser esperadas a partir de agora? Que avanços podem ser destacados no meio corporativo, dentro do conceito de “Environment, Social & Governance” (ESG), em relação à sustentabilidade do planeta? A educação ambiental sensibilizará os mais ricos? A mobilização popular será capaz de frear a degradação da Terra? O mundo está preparado para o decrescimento (degrowth), que implicará na mudança de estilo de vida e de padrões de consumo e produção?
Os artigos serão recebidos em português, inglês e espanhol, através da página da revista Thésis, até o dia 03 de março de 2025.
Aguardamos as suas contribuições!!
Referências:
ARRHENIUS, S. On the influence of carbonic acid in the air upon the temperature of the ground. The London Edinburgh and Dublin Philosophical Magazine and Journal of Science, fifth series, vol. 4, n. 251, p.237-276, abril/1896.
IPCC. INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE. CLIMATE CHANGE. The IPCC 1990 and 1992 Assessments, 1992. Disponível em: https://www.ipcc.ch/report/climate-change-the-ipcc-1990-and-1992-assessments/ . Acesso em: 22 set. 2024.
IPCC. INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE. CLIMATE CHANGE. Climate Change: Synthesis Report, 2023. Disponível em: https://www.ipcc.ch/report/ar6/syr/downloads/report/IPCC_AR6_SYR_SPM.pdf . Acesso em: 23 set. 2024.
WMO-World Meteorological Organization. State of the Global Climate 2023. Geneva: WMO, no 1347, 2024.