DESAFIOS DA PRESERVAÇÃO DA ARQUITETURA RACIONALIZADA DE LELÉ NO BRASIL
Resumo
Este artigo se propõe a destacar aspectos-chave em torno do processo de preservação da obra do arquiteto João Filgueiras Lima (1932-2014), também conhecido como Lelé, no Brasil. No momento em que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) decide iniciar a salvaguarda de seus prédios em Brasília, me parece pertinente levantar questões que remontam às origens de seu envolvimento com a pré-fabricação. Nesse sentido, descobrir como a sequência de falhas atribuíveis a Lelé e sua equipe se tornou um pré-requisito para a pesquisa construtiva do arquiteto é fundamental. Lelé mostrou que, durante mais de 50 anos dedicados a promover a industrialização da construção no Brasil, os desentendimentos técnicos foram frequentes e decisivos em sua vida profissional. Os fracassos vividos pelo arquiteto durante a construção da Universidade de Brasília (1961-65) – um dos momentos mais significativos da pré-fabricação no Brasil – e depois, durante a ditadura militar (1964-85) – quando se envolveu mais sistematicamente com construtoras e engenheiros – formaram a base de sua capacidade de converter a falta de meios em desafios. De certa forma, as decisões deliberadas do arquiteto em relação ao método operacional e às diretrizes práticas de sua obra podem apresentar desafios para o poder público interessado nas ações de preservação. Prova disso são os inúmeros edifícios em que os sistemas originais (cobertura, drenagem, ventilação, iluminação, etc.) foram parcial ou totalmente alterados. A questão que se coloca aqui não é se essas mudanças podem ter afetado a funcionalidade ou aparência do edifício, mas como o Instituto do Patrimônio no Brasil poderia aproveitá-las para (re)construir e validar o conhecimento construtivo do arquiteto e, portanto, compartilhar sua maneira de pensar e produzir arquitetura como um objeto técnico, percebida e executada como parte de um processo.